sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Ser vegano

O primeiro a inventar esse negocio de se tornar vegetariano foi um cara chamado Donald Watson, em 1944.

Paradoxalmente, embora esse sujeito nunca tivesse gozado de boa saúde - sempre foi muito fraco e pálido conforme seus contemporâneos observavam - dizia-se que ele apreciava (às escondidas, é claro) um bom frango assado, peixes e carne bovina. Só não gostava, de verdade, de carne de porco.

Entretanto, Antes do senhor Watson, todo mundo comia carne numa boa, inclusive Jesus Cristo que, com seus discípulos andando pelos desertos do oriente médio, supostamente teria que caçar roedores, repteis e insetos pra comer, como fazem até hoje os viajantes daquelas bandas. Se não fosse assim, morreriam de fome, pois na região não tem verdura nem fruta.

O próprio criador, lá no começo do mundo, deixou claro a sua preferência! Quando Caim lhe fez uma oferenda de cereais, legumes e verduras, Ele detestou! Não deu a mínima. Porém, quando Abel matou a melhor ovelha de seu rebanho e ofereceu a carne e "as gorduras dela", Deus ficou todo feliz (Gênesis,4.4)

Em outra ocasião, Deus prometeu ao seu povo, por meio de Moisés, o que há de melhor no mundo: uma terra onde mana leite e mel (Êxodo, 3.8)! Nada de lavouras, hortas e pomares!  

E não é só por esses aspectos doutrinários e religiosos. Vale observar que sem carne a humanidade provavelmente teria sido extinta há pelo menos 80.000 anos, como foi para outras cerca de 22 espécies de hominídeos.

Pois é! Você sabia que na face da terra existiram cerca de 22 espécies de pessoinhas parecidas com a gente, do mesmo gênero dos Primatas, mas apenas uma dessas espécies não foi extinta, o Homo Sapiens?

E sabe porque apenas o Homo Sapiens sobreviveu? Porque ele aprendeu a caçar! Isso mesmo! Ele matava bicho e comia, assim como sempre fizeram os felinos, os canídeos, os répteis, os anfíbios, os insetos, os moluscos, alguns macacos, quase todos os mamíferos e muitas espécies de peixes e aves. Ou seja, quase todos os animais da terra e até algumas plantas carnívoras.

O homo sapiens não foi diferente! Especialmente quando vieram as duas eras do gelo acabando com quase toda a vegetação há cerca de 30.000 e há 18.000 anos atrás; ele e essas outras espécies mais inteligentes se viraram e sobreviveram comendo uns aos outros.

Essa comilança é conhecida como cadeia alimentar, responsável pela existência da vida no planeta e que é resultado de uma estratégia intelectual cognitiva dos animais comedores de carne.

Por isso, hoje são mais de 7 bilhões de descendentes do homo sapiens espalhados por ai, criando e comendo os seus próprios bichos, vacas porcos galinhas, insetos, peixes, etc...

E sabe o que aconteceria se os 7 bilhões de homo sapiens resolvessem se tornar veganos?
A humanidade seria extinta rapidamente!
Isso mesmo! A subsistência de proteínas exclusivamente a partir das mínimas porções que absorveríamos dos vegetais exigiria uma área agrícola pelo menos 25 vezes maior do que a que existe hoje. E infelizmente o planeta não teria terra suficiente e nem comportaria tanta plantação com seus tratores, irrigação, caminhões transportando grãos e gastando petróleo!...

Sem falar da água! Onde arranjariam tanta água pra irrigar esse mundão de lavoura? E os agrotóxicos? Imagina uma quantidade de veneno 25 vezes maior sendo espalhada pelos campos, contraminando os rios, o lençol freático!

E com isso, o que aconteceria com os animais? Já parou pra pensar? Onde eles iriam viver e o que é que eles iriam comer?
Não iriam comer nada, pois não sobraria pra eles! Morreriam todos de fome, assim como toda a humanidade, depois de algum tempo.

Por isso é que não dá pra ser vegano de fato! Seria condenar todos os animais, todas as plantas, todos os seres humanos e toda a vida à extinção!

Ainda bem que o homo sapiens fez a opção correta: Ou seja, aprendeu a fazer uso das proteínas sintetizadas por meio do ciclo Krebbs e do processamento da Amilase (consulte uma boa bibliografia sobre bioquímica e nutrologia pra entender o que é isso). O organismo humano não processa essas coisas. Se processasse a gente poderia comer algodão, papel, madeira, grama, que são constituídos de uma fibra chamada celulose, na qual está concentrada cerca de 80% da energia vital do planeta.

Mas não adianta a gente comer isso, pois o nosso sistema digestivo não digere a celulose. O dos animais herbívoros, sim! Por isso esses animais concentram proteínas a uma taxa cerca de 16 vezes maior do que a quantidade que a gente consegue extrair dos vegetais que comemos.

E só assim, comendo essa proteína concentrada metabolizada pelos animais através do processamento da celulose, é que foi possível à humanidade desenvolver dois fatores vitais à sua própria sobrevivência:
1)          A capacidade de se obter proteína suficiente para sobreviver, proveniente da carne, dos ovos e do leite. Se não fosse assim, nós teríamos comido toda a cobertura vegetal do planeta há 20.000 anos atrás e mesmo assim teríamos morrido de inanição pois, como se diz lá em Minas Gerais, capim é um trem que não sustenta;
2)          O desenvolvimento do Encéfalo, uma parte essencial do cérebro que sustenta a inteligência humana, que só foi possível através da alta concentração proteica na alimentação.

Nem precisa perguntar sobre o quê os 7 bilhões de pessoas iriam usar pra vestir pra se proteger do frio e da chuva, pra calçar os pés, pra fazer sua higiene, etc, sem lã, sem couro, sem as gordura e enzimas extraídas dos animais pra fabricar sabonetes, pastas de dentes, detergentes, perfumes e desinfetantes!

Então, veja bem que pra ser vegano de verdade não pode vestir casaco de couro, nem gorro de lã, nem calçar tênis de couro! Mas também não pode tomar banho, nem escovar os dentes, nem lavar a roupa, nem a louça da pia, tampouco passar perfume, pois os produtos usados são fabricados a partir da morte dos bichinhos!
Comer chocolate, sanduíche de alface e tomate, tomar sorvete, nem pensar, pois tudo depende da lactose e do leite que é roubado dos bezerrinhos.
Sem falar das vacinas e remédios que são produzidos por meio processos de incubação na proteína do ovo, nas enzimas estomacais dos ruminantes, na lactose e no soro sanguíneo de coelhos, depois são testadas em cobaias e ratos. Iam acabar e as epidemias tomariam conta do mundo!

Há outro aspecto que os veganos omitem, mas que não dá pra esquecer. Imaginemos uma hipótese - por mais absurda e insana que seja - na qual a população do mundo se convencesse de que essa ideia é boa e, daí, não abatesse mais nenhum animal. Sabe o que aconteceria? A bicharada proliferaria em escala geométrica e em questão de meses não haveria ração nem pastagem, tampouco espaço suficiente na terra para as vaquinhas, os porquinhos, os carneirinhos, etc.

Daí, eles começariam a invadir as cidades e os jardins, engarrafar o trânsito e encher as ruas de cocô! Logo logo começariam a morrer de fome e as suas carcaças fedidas iriam se espalhar pelas ruas, diante das suas casas. E isso não é tudo: a proliferação dos animaizinhos provocaria um aumento explosivo de gás metano que destruiria a camada de ozônio e... nem precisa contar o resto, né! 

Isso pode até parecer terrorismo psicológico. Mas, de fato, não dá pra pregar o veganismo míope e irresponsável, querendo deixar os pepinos e as batatas quentes nas mãos dos outros. Há que se pensar pragmaticamente e com responsabilidade, avaliando as consequências das nossas próprias ideias.
Ser vegano pode parecer chique, moderno e chamar atenção das pessoas para si. Mas será que é uma ideia sensata?

Saiba mais:

1) A recomendação mais atual da FAO/OMS (Relatório JOINT FAO/WHO "AD HOC" EXPERT COMMITTEE ON ENERGY AND PROTEIN REQUIREMENTS, Geneva, World Health Organization, 1973) aumentou a quantidade necessária de proteína diária de 0,57 g/kg para 0,70 g/kg de peso.
Além disso, recomenda textualmente:

"As proteínas são constituintes INDISPENSÁVEIS ao protoplasma vivo, pois participam de TODOS os processos vitais.

"Das proteínas provêm os aminoácidos necessários tanto para a síntese protéica, que leva à formação de novos tecidos, quanto para a recuperação das proteínas que foram catabolizadas."

"Os aminoácidos não sintetizados pelo organismo (aqueles que a gente precisa ingerir) são chamados AMINOÁCIDOS ESSENCIAIS, pois o organismo não se sustenta sem eles. São em numero de oito: Leucina, Isoleucina, Lisina, Metionina, Fenilalanina, Treonina, Triptofano e Valina".
"As proteínas do ovo e do leite, além das carnes, fornecem o maior conteúdo de aminoácidos essenciais.

2) A ANVISA apresentou esse teor recomendado pela FAO por meio da Consulta Pública nr. 80, de 17/12/2004, anexando a tabela de referência nutricional da FAO, na qual se deduz (veja legenda do rodapé):
Peso médio do homem adulto brasileiro = 71 kg
Necessidade mínima de proteína diária = 0,70 g por kg de peso (antes de 2004 era considerado 0,57 g por kg)
Isso dá uma média de 50 g por dia.

3) Animais herbívoros, especialmente os ruminantes (bovinos, ovinos, etc...) possuem um sistema digestivo diferente, capaz de processar a celulose e extrair dela as proteínas e carboidratos de que necessitam.
Ao contrário, o sistema digestivo humano não processa a celulose.

4) O organismo humano também digere proteínas vegetais, chamadas proteínas secundárias. Entretanto, essas proteínas só podem ser metabolizadas completamente se forem complementadas com aminoácidos essenciais (de origem animal).
As proteínas secundárias são encontradas basicamente nas leguminosas (feijão, fava, grão de bico, ervilha, lentilha...), castanhas, sementes, etc...


Alimentos que parecem vegetarianos mas não são:



A rigor, no Brasil, praticamente todos os produtos vegetais consumidos no mercado interno são produzidos à custa do emprego de animais nas fazendas, seja na tração animal (arados, carros de boi, carroças, gradeadeiras, carpideiras, engenhos, etc...), seja no transporte pessoal (cavalos, bois e búfalos de monta).
Isso porque cerca de 85% da produção agrícola no Brasil vem da agricultura pequena, média ou familiar que, sabidamente, não dispõe de tratores, caminhões nem automóveis de passeio e, por isso, só conseguem trabalhar à custa do sofrimento dos animais domesticados, mantidos nas propriedades.
E, quem conhece sabe muito bem que não há nenhuma tradição de bons tratos a animais nas regiões rurais brasileiras. Infelizmente, reina o chicote e o ferrão de aço.
Contudo, ainda que estes aspectos não sejam relevantes, pois o mau trato aos animais está distante e talvez não nos sensibilizem, ainda há que se considerar que muitas vezes se come animais por desconhecimento. Veja, por exemplo, os seguintes alimentos:
1)   Açúcar branco (cristal ou refinado): O processo de clareamento, conhecido como “carbonização natural”, consiste na mistura de ossos de vaca carbonizados. O açúcar original, antes dessa carbonização é marrom, quase negro. Ressalte-se que açúcar mascavado e de confeiteiro e também podem conter esse elemento.
2)   Suco de laranja: Para serem comercializados, os sucos de laranja têm a adição de Ômega-3, retirado de anchovas, sardinhas e tilápias. Além disso, a vitamina D adicionada vem da lanolina, retirada da lã de ovelha.
3)   Baunilha: sorvetes, biscoitos e tudo o que traz o “sabor natural” de Baunilha, na verdade é constituído de um líquido perfumado de cor marrom retirado de uma glândula no rabo do castor.
4)   Feijão: A maioria dos restaurantes cozinham o feijão com banha de porco, e como forma de assegurar sabor mais agradável e textura mais consistente.
5)   Banana: Essa fruta deve ser colhida antes de amadurecer, senão desmancharia no transporte. E a única forma de se conseguir a maturação saudável, protegida da ação de fungos, é borrifando um produto chamado quitosana, extraído de caranguejos e camarões.
6)   Pães e biscoitos à base de Bagel: Além de leite, ovos e manteiga, praticamente todos os pães e biscoitos levam este fermento em suas receitas, o qual é produzido a partir de uma enzima conhecida como L. cisteína retirada das asas de galinha ou pato, quando não é feita de cabelo humano.
7)   Doces, balas, chicletes, sorvetes, gelatinas, massas colridas e demais iguarias de cor predominante vermelha: O corante Red Natural #4 (também conhecido como Carmin), usado para dar a cor a estes alimentos é produzido a partir do besouro Cochonilha esmagado. Tritura-se a fêmea desse besouro, que possui uma glândula cheia de ácido carmínico e adiciona esse “caldo” aos alimentos.
8)   Cerveja ou Vinho: Os sabores com notas de groselha, baunilha sentidos em algumas dessas bebidas, provém do processo de clareamento feito à base do colágeno obtido na bexiga de alguns peixes, em especial o esturjão.
9)   Batata chips: são produzidas em processo de fritura industrial na gordura de frango.
10)       Amendoins salgados: A textura e a aderência do sal são conseguidos através da adição de colágeno obtido na trituração de ossos dos pés e tecidos conjuntivos de porco ou vaca.
11)       Margarina Vegetal e Gelatina: São constituídas essencialmente do mesmo colágeno obtido na trituração de ossos dos pés e tecidos conjuntivos de porco ou vaca.

Outros Produtos que parecem vegetarianos mas não são:

Produtos processados a partir de derivados da LACTOSE
Açúcar do Leite)
1) Do Ácido Lactobiônico:
a) detergentes de louças e sabão em pó para uso doméstico;
b) fluidos conservantes de órgãos transplantados;
c) medicamentos com ação de vetorização (que agem diretamente nas células, tecidos ou órgãos;
d) quitosana hidrossolúvel (medicação para tratamento do fígado);
e) fosfato nutricional (suplementos);
f) cosméticos dermatológicos, com ação hidratante, antienvelhecimento, anti-fotoenvelhecimento ou rejuvenescedora;
g) produtos antiacneicos (contra espinhas), pomadas e medicamentos cicatrizantes.

2) Do Lactitol:
a) Adoçante dietético edulcorante;
b) chicletes, biscoitos, bolos, produtos forneados e produtos lácteos de baixo teor calórico;
c) produtos dentais para tratamento preventivos de cáries, para assepsia e desodorantes bucais;
d) medicamentos e produtos dietéticos que agem pelo aumento da bifidobacterias ativas no colón intestinal, destinados à cura de diversas doenças do intestino;
e) fármacos e produtos medicinais laxantes osmóticos.
3) Da Lactases:
a) Medicamentos e produtos laticínios destinados a controlar os resíduos nocivos de outros alimentos no trato intestinal, na cura de intolerância alimentar;

4) Do Acido láctico:
a) farinhas para bolos e pães que contém acidulantes, reguladores de acidez, umectantes e antioxidantes;
b) bebidas (cerveja, vinho, sucos de frutas);
c) alimentos em conservas (azeitonas, palmito, repolho, pepino, etc...);
d) descontaminante e conservante em utensílios de cozinhas industriais destinado a reduzir a infecção por Salmonella e a contaminação por E. coli, dentre outros;
d) cosméticos de ação hidratante e regulador de pH, assim como produtos destinados ao clareamento e hidratação da pele, além da atividade antimicrobiana;
e) emulsificantes e estabilizantes em produtos de higiene pessoal;
f) tecidos de coloração intensa, curtidos e tingidos à base de ácido lacteo.

6) Do Polilactatos (PLA)
a) embalagens de plástico biodegradável, reciclável, bioabsorvível e compostável, transparente, assim como para demais polímeros que exijam capacidade de biocompatibilidade;
b) fibras e têxtil sintéticos;
c) tecidos e implantes ósseos e fios de sutura médica com capacidade bioabsorvível;
d) polímeros biodegradáveis usados na indústria eletrônica.


...

Marcio Almeida é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática, Especialista em Direito Administrativo Disciplinar, ex Diretor de Auditoria Legislativa e ex Presidente de Processos Disciplinares na Administração Federal Brasileira, Diplomado da Escola Superior de Guerra, M∴M∴, Escritor, Músico Amador, Meio-Maratonista, pesquisador autodidata em Nutrologia e Nutrição Esportiva, História e Sociologia.





sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Correr Descalço

Eu corro descalço desde 1987. Até então, aos trinta anos de idade, eu levava um vida sedentária, meio boêmio, roqueiro e violeiro, sem nunca ter praticado nenhuma atividade física regular. Pesando cerca de 18 quilos mais que hoje, mantinha um nível de pressão arterial e de glicose sempre elevados.
Foto da reportagem da Revista Isto É sobre "Correr Descalço"
Porém, em março de 1987, quando houve a mudança da moeda brasileira que extinguiu o Cruzeiro e adotou o Cruzado, o Departamento responsável pela conversão do Sistema de Contabilidade da empresa onde eu trabalhava em Belo Horizonte, entrou em colapso. Praticamente sozinho no meio do furacão, eu quase pirei. Foi tanta pressão que eu comecei a ter sintomas meio preocupantes em relação a aspectos cardiológicos e neurológicos. Pra me recuperar, os médicos da empresa me impuseram um severo regime de atividade física aeróbica. Foi quando tomei gosto pelas corridas!
Logo nas primeiras semanas de corrida eu deixei de usar tênis, por comodidade - pra não ter que lavá-los diariamente, pois o campo de futebol onde eu corria era de terra batida e muito poeirento. Daí, eu pensei: lavar o pé é mais fácil que lavar os tênis!
Ao longo dos anos preservei o hábito porque descobri que minha performance correndo descalço era cerca de 15% maior, tanto em termos de resistência quanto em velocidade. Hoje uso tênis eventualmente, apenas quando vou correr em pista muito aquecida pelo sol ou com pedregulhos. Contudo, apesar das críticas que sofri, sobretudo no começo, prefiro correr com meus pés no chão.

Nós nascemos descalços

Todavia, a despeito de toda a polêmica sobre essa prática, a  minha convicção é que a condição normal do ser humano, tanto para correr quanto para andar, é descalço, pois só assim os mecanismos biológicos que formam o nosso sistema de locomoção podem funcionar naturalmente, livres da interferência de acessórios artificiais.
Felizmente, esse entendimento não é mais uma exceção. Hoje em dia existem legiões de adeptos no mundo inteiro, além de profissionais médicos e fisioterapeutas que reconhecem as vantagens da corrida naturista.
Minha participação descalço na Meia Maratona Internacional do Rio de Janeiro.
Ora, não poderia ser diferente! A estrutura ortopédica e funcional do nosso sistema de locomoção se desenvolveu e se aperfeiçoou ao longo de milhões de anos, formando um conjunto mecânico perfeito! Seria muita ousadia acreditar que a indústria de calçados, por mais evoluída tecnologicamente que seja, pudesse ter desenvolvido produtos capazes de competir, melhorar ou, muito menos, superar a perfeição do conjunto ortopédico natural do ser humano.
Por outro lado, por mais que os calçados sejam necessários e convenientes à proteção dos pés, não deixam de ser acessórios artificiais que, de alguma forma, interferem na altura da pisada e nas dimensões naturais do passo, afetando a forma de andar de cada pessoa. Em razão disso, uma vez que o calçado não é parte integrante do nosso mecanismo locomotor original, acabam por interceder negativamente em todo o sistema, seja nos músculos, seja nas demais estruturas do corpo, sobretudo na coluna vertebral, que é a estrutura mestra a sustentar o corpo.
Portanto, por mais que os fabricantes desenvolvam tênis especializados e tentem vender a ideia de que seus produtos diminuem o impacto, aumentam o impulso, etc, etc, na verdade eles estão apenas correndo atrás do prejuízo, buscando amenizar os danos impostos pelo uso desse calçado.
Por essas e outras razões, ainda que muitos profissionais médicos e ortopedistas defendam o contrário, eu não vejo qualquer risco em correr ou andar descalço, além de pedrinhas, espinhos, cacos de vidro ou pavimentação muito aquecida pelo sol, que podem muito facilmente ser evitadas.

Pé no chão não faz mal

Acredito que o senso comum, segundo o qual o uso de tênis é indispensável, sobretudo nos esportes, é resultado de uma ação de marketing muito intensa, que vem há décadas convencendo a opinião pública e a comunidade médica, mas a a real motivação é vender tênis e sustentar o bilionário mercado calçadista ao redor do mundo.
No entanto, não vejo razão para preocupação em relação a efeitos nocivos decorrentes da prática de corridas descalço. Pelo contrário, eu me arriscaria a sugerir que eventuais problema de coluna podem ser, no mínimo, amenizados com caminhadas e corridas descalço. Não só pelo reforço e condicionamento dos músculos que auxiliam a estrutura óssea na sustentação do corpo, mas também pelo fato de que esse tipo de atividade não impõe nenhum esforço extra de adaptação para compensar a alteração provocada pela sola e pelo salto do calçado.
É comum me perguntarem sobre como e quando começar essa prática. Embora não haja segredo algum, eu recomendo começar aos poucos, primeiro pela grama, areia ou terra batida e, em poucos dias, pode enfrentar pistas de cimento ou asfalto, numa boa. Essa prática gradativa visa muito mais a uma adaptação psicológica do que a um condicionamento da sola do pé, que, por natureza, já tem um couro muito resistente. Entretanto, se você tiver uma pisada torcida ou deslizante, isso poderá causar bolhas e deve ser corrigido.
Às mulheres, obviamente, vale alertar que a limpeza do pé e das unhas ficará um pouco mais trabalhosa. Porém, a pele da sola do pé permanecerá lisa e macia ao tato.
É importante também observar que as pistas molhadas deixam a pele fragilizada, pois a umidade amolece e deixa o tecido mais flácido e mais vulnerável. Por isso, até mesmo quando for correr depois de ter passado um longo período de tempo calçado e com o pé suado, é melhor dar um tempo para secar a sola dos pés.
PESQUISAS:
I - Tênis: Pesquisas e Desenvolvimento nos anos 90.
Nos anos 90 a Nike e Adidas, as duas maiores fabricantes mundiais de tênis buscavam, simultaneamente, desenvolver o melhor tênis para corrida. Porém ambas adotaram enfoques divergentes nos respectivos projetos:
1. A Nike apostou na tese de que o tênis deveria exercer uma função ativa em relação à performance do atleta. Assim, investiu em dispositivos que absorvessem o impacto do pé ao tocar o piso e que, em seguida, oferecesse uma propulsão suplementar à passada, impulsionando o corpo do atleta.
2. Por outro lado, os engenheiros da Adidas acreditavam que o tênis deveria oferecer unicamente a proteção e segurança necessárias à planta dos pés e, sobretudo, conforto e, nessa linha, buscou-se desenvolver um tênis que provocasse a menor interferência possível no funcionamento natural do pé e das articulações, permitindo que o atleta se submetesse exclusivamente aos efeitos naturais decorrentes da concepção anatômica original do corpo.
Ambas as empresas investiram milhões de dólares e recrutaram os melhores profissionais das mais diversas áreas, dentre os quais renomados engenheiros de produtos, engenheiros de materiais, médicos, fisioterapeutas, dentre outros, todos dedicados à pesquisa tecnológica, testaram seus produtos acompanhando a evolução e o comportamento de dezenas de atletas em todo o mundo, ao longo de vários anos.
Segundo a reportagem do "Discovery Channel", que documentou as pesquisas levada ao ar naquela ocasião, as diferenças de performance entre os atletas que usavam tênis Nike e os que usavam tênis Adidas, medida ao longo de três olimpíadas consecutivas, foi insignificante. Contudo, no cômputo geral de medalhas, houve pequena vantagem dos atletas patrocinados pela Adidas, que apostou na segunda tese.
Esse resultado sustenta uma dedução lógica, segundo a qual, por mais tecnologia que possa apresentar, o tênis não oferece nenhuma vantagem prática à performance do atleta. Portanto, na escolha do modelo de tênis ideal, procure apenas aquele que ofereça boa proteção aos pés, com conforto. No máximo, busque modelos que ofereçam uma adequação às peculiaridades anatômicas da pisada de cada um.
II - Atletismo: Fatos relacionados:
1) AbebeBikila, reconhecido como o maior maratonista de todos os tempos, "o vingador etíope", venceu as Olimpíadas de 1960, em Roma, correndo descalço como sempre fazia.
Abebe Bikila: O maior maratonista de todos os tempos
Contratado por patrocinadores e fabricantes de artigos esportivos passou a treinar usando tênis e, apesar de vencer em Tóquio quatro anos depois, se tornando o primeiro atleta da história a vencer duas maratonas, teve a performance comprometida, a partir de então, devido a desgastes nas articulações e uma fissura na perna direita que muitos teóricos associam à tentativa tardia de adaptação ao tênis.
Na sua terceira participação olímpica, (México/1968), foi forçado a abandonar a prova no quilômetro 17, por causa de danos nas articulações.
2) SerafimMartins, atleta caparicano (da Costa da Caparica), foi campeão nacional olímpico em 1913 e, nesse mesmo ano, venceu no Velódromo de Palhavã as provas de 5.000 metros e de 10.000 metros. No ano seguinte, venceu da Maratona de 42.800 metros, em Lisboa. Apesar de insistentes apelos de patrocinadores realizou todas essas provas correndo descalço.
III - Frases e Teses:
"Não estamos dizendo para as pessoas correrem descalças. O que quero dizer é que nenhuma sola especial controla o impacto, porque não são inteligentes como a sola do pé".
(Alberto Carlos Amadio, Pós-doutorado e Livre Docente em Biomecânica e Educação Física da USP, após concluir pesquisa na qual estudou as quatro principais marcas de tênis do mercado (Nike, Asics, Topper e Rainha) e não identificar nenhuma vantagem em relação ao rendimento do atleta, tampouco à saúde do pé).
"O pé é anatomicamente adaptado para andar e para correr descalço. O tênis, assim como qualquer outro acessório ou, até mesmo, prótese, requer adaptação para ser utilizado sem prejuízo à saúde".
(Dra. Mariana Ferreira, pesquisadora autora de estudos sobre a anatomia e saúde do pé (Universidade Estadual de Santa Catarina).
"Muitas dessas propagandas são enganosas. Algumas marcas chegam a anunciar simultaneamente o máximo de absorção de impacto e de propulsão. Acontece que são conceitos físicos antagônicos, ou seja, se houver o máximo de absorção não há propulsão".
(Júlio Cerca Serrão, pesquisador do laboratório e professor da Escola de Educação Física e Esportes, da USP, sobre a publicidade de tênis. Veja também: Desafie Seu Limite e CNPq).
"O aumento de altura dos calcanhares e da planta dos pés (decorrente do uso de calçados) provoca instabilidade e modificações no padrão normal de caminhar"
(H. H.Marrifield, da Texas Tech University, após pesquisa realizada em 1971).
Veja Matéria sobre o assunto publicada pela Revista ISTO É: CliqueAQUI.
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Marcio Almeida é Engenheiro Mecânico e Engenheiro Industrial, Administrador de Empresas, MBA em Gestão Governamental e Ciência Política, Especialista em Informática, Especialista em Direito Administrativo Disciplinar, ex Diretor de Auditoria Legislativa e ex Presidente de Processos Disciplinares na Administração Federal Brasileira, Diplomado da Escola Superior de Guerra, M∴M∴, Escritor, Músico Amador, Meio-Maratonista, pesquisador autodidata em Nutrologia e Nutrição Esportiva, História e Sociologia.